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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ex-aluno da Apae chamado de "bobo" é escolhido presidente da Câmara de Sertãozinho (SP)


José Bonato
Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

Divulgação
Zezinho Atrapalhado foi escolhido presidente da Câmara de Sertãzoinho (SP)
Zezinho Atrapalhado foi escolhido presidente da Câmara de Sertãzoinho (SP)
Um vereador eleito para o sétimo mandato em Sertãozinho (333 km de São Paulo) é um exemplo de superação. Até os nove anos de idade, Rogério Magrini dos Santos, 45, não falava nem andava. Ele vivia num carrinho de bebê e era cuidado por alguns dos sete irmãos enquanto a mãe ia trabalhar na colheita da cana. A família, segundo ele, vivia numa casa de apenas um cômodo.
As limitações de fala e locomoção de Santos, porém, começaram a ser vencidas depois que ele foi matriculado na Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), aos sete anos. Dois anos depois, graças a sessões de fonoaudiologia, passou a falar e, aos dez anos, a caminhar.
Nas ruas, porém, Santos passou a ser alvo de preconceito. "Os meninos me chamavam de bobo, louco, doido. Aí eu chorava e ia contar para a minha professora da Apae. Ela me dizia que ninguém é melhor do que ninguém e que eu deveria acreditar em mim e vencer. Foi o que aconteceu."
Dessa época veio o apelido de "Zezinho Atrapalhado", que, nas disputas eleitorais, acabou rendendo a Santos as maiores votações para a Câmara de Sertãozinho nos últimos 27 anos. Ele afirma que não se chateia mais quando é chamado pelo apelido. "Eu gosto, acho carinhoso. Hoje é o meu nome artístico", afirma.
Além de vereador pelo PTB, Zezinho Atrapalhado é humorista e costuma fazer de três a quatro shows por mês vestido de palhaço. No último, realizado em Bebedouro (381 km de São Paulo), afirma ter atraído 15 mil crianças.

Corte nos gastos

Se nos palcos o artista Zezinho Atrapalhado procura agradar a plateia, na Câmara de Sertãozinho o vereador, que é presidente da Casa, pretende fazer o oposto. A palavra de ordem do ex-estudante da Apae é cortar gastos.
"Ontem mesmo já demiti 22 pessoas. Foi uma choradeira, e eu chorei junto com as pessoas. Mas acho que o dinheiro público é para fazer escola e creches e não para gastos desnecessários. Também devolvi a máquina de café, que custava R$ 3.000 por mês, e já estou negociando o aluguel do prédio da Câmara."
Zezinho Atrapalhado afirma que fez voto de pobreza aos 14 anos. Ele se casou com separação de bens com uma "mulher rica", que herdou fazenda, e tem uma filha adolescente. "Eu tenho apenas um carro básico e um salário de R$ 7.800 de vereador. Não preciso de nada mais do que isso."
Para se eleger vereador, Zezinho Atrapalhado afirma não fazer gastos e apenas usar a experiência de garoto-propaganda, uma de suas primeiras profissões. Os votos são pedidos mediante panfletos e uma bicicleta equipada com um aparelho de som.
 

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